Encontro debate eliminação do mercúrio e fortalecimento da saúde ambiental

O evento Futuro sem Mercúrio: Parcerias Globais para a Saúde Ambiental, realizado esta semana no Rio de Janeiro, reuniu representantes da Pure Earth, da Fiocruz e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), além de gestores públicos, pesquisadores e organizações internacionais. A atividade ocorreu no contexto do Fórum de Líderes Locais, que antecede a COP30, com início na próxima semana em Belém. O encontro promoveu um diálogo sobre os desafios e oportunidades para a eliminação do mercúrio, destacando os impactos da poluição química na saúde humana e nos ecossistemas, contribuindo para os avanços na implementação da Convenção de Minamata, que completa oito anos. As discussões enfatizaram a importância da cooperação entre ciência, políticas públicas e comunidades para reduzir a exposição a contaminantes e proteger populações vulnerabilizadas.

O debate sobre o mercúrio reafirma o papel do Brasil na busca de soluções para a tripla crise planetária e evidencia a importância de alianças entre ciência, Estado e sociedade (Foto: VPAAPS/Fiocruz)

A assessora de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Juliana Rulli Villardi, destacou que o enfrentamento à contaminação por mercúrio é uma agenda da saúde global e da justiça ambiental, que ultrapassa o campo técnico e ambiental e se inscreve como questão de direitos humanos e soberania sanitária. “O mercúrio atravessa fronteiras e atinge corpos, ecossistemas e culturas. Seus efeitos recaem principalmente sobre povos indígenas, ribeirinhos, trabalhadores da mineração e populações do campo, das florestas e das águas”, afirmou. Segundo ela, enfrentar o problema requer cooperação institucional, inovação e investimento contínuo.

Juliana ressaltou o papel estratégico da Fiocruz na integração entre ciência, políticas públicas e ação territorial em defesa da vida. Mencionou o Grupo de Trabalho Mercúrio e Saúde como ação institucional estratégica, que articula pesquisadores de diferentes unidades da Fiocruz, na construção de uma agenda de pesquisa cooperada voltada à proteção das populações expostas. Destacou ainda o Centro de Síntese em Saúde para Mudança do Clima, Biodiversidade e Poluição e a criação do Centro de Clima e Saúde em Rondônia como espaços de oportunidade para a articulação e fortalecimento dessa agenda, reforçando a presença e o compromisso da Fiocruz na Amazônia.

O chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Filipe Lopes, ressaltou a importância de incorporar o tema à agenda da cidade e aproximá-lo do cotidiano da população. “As pessoas compreendem melhor o impacto de uma enchente do que o de um contaminante invisível como o mercúrio. É fundamental traduzir esse problema em políticas públicas locais”, afirmou.

O cientista de dados Gabriel Vieira, do Centro de Inteligência Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, destacou que a integração entre vigilância e dados ambientais é essencial para prevenir agravos e orientar políticas baseadas em evidências. O Centro, pioneiro na América Latina, analisa informações sobre poluição do ar e eventos de calor e pretende incluir o monitoramento de metais pesados em suas análises epidemiológicas.

A experiência internacional foi apresentada pelo diretor de programa da Pure Earth no Peru, Rodrigo Velarde, que relatou iniciativas de vigilância sanitária e atenção a pessoas intoxicadas por mercúrio, além de projetos com mulheres mineradoras formais que adotaram tecnologias livres do metal. Segundo ele, as experiências mostram que é possível reduzir a exposição e manter a produção de forma segura, com apoio técnico e presença do Estado.

Em nome do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Adalberto Maluf Filho destacou que o Brasil vive um momento decisivo no avanço das políticas relacionadas à Convenção de Minamata. Entre os desafios, citou a necessidade de implementação de protocolos clínicos para populações contaminadas, rastreabilidade da cadeia do ouro, destinação segura do mercúrio apreendido e ampliação do inventário nacional de emissões. O secretário enfatizou também a importância da atuação conjunta entre o MMA, o Ministério da Saúde e a Funai na proteção de povos indígenas e comunidades amazônicas.

As falas convergiram em torno da urgência de fortalecer políticas integradas de saúde e ambiente, capazes de transformar evidências científicas em ações públicas. O Plano de Ação Nacional sobre o Mercúrio, em fase de elaboração pelo governo brasileiro, foi apontado como um marco importante nesse processo e será apresentado na Sexta Conferência das Partes da Convenção de Minamata (COP6), de 3 a 7 de novembro, em Genebra (Suíça).

A discussão também dialoga com a agenda climática que ganha força com a realização da COP30, na próxima semana, em Belém. Ao conectar os temas de clima, poluição e biodiversidade, o debate sobre o mercúrio reafirma o papel do Brasil na busca de soluções para a tripla crise planetária e evidencia a importância de alianças entre ciência, Estado e sociedade.

Publicado em 07/11/2025 14:23 Silvia Batalha (VPAAPS)

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