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Radis faz balanço da 5ª Conferência de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora

Mudanças no mundo do trabalho, redução da jornada, criação de uma Política Nacional de Saúde do Trabalhador, fortalecimento da vigilância em saúde do trabalho e revogação de reformas que precarizam a vida profissional estiveram em pauta na 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (5ª CNSTT). A conferência contou com ampla participação popular e destacou que a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras é direito humano. Tudo isso está na nova edição da revista Radis, publicada pela Fiocruz.

A revista mostra o que esteve em discussão no encontro. E lista quais os desafios estruturais do mundo do trabalho e como dar continuidade às lutas para que essas pautas deixem de ser promessa e se tornem realidade.

A edição também traz outros assuntos: iniciativas na atenção primária que valorizam o brincar no desenvolvimento infantil; o canto coral que promove saúde mental e inclusão; e o projeto Mosaic, que une ciência e saberes locais para enfrentar degradação ambiental. E ainda apresenta um estudo da Fiocruz que revela melhorias do parto vaginal no SUS, mas aponta falhas no pré-natal e altos índices de violência obstétrica.

Publicado em 06/11/2025 14:48 Informe Ensp

Novembro Azul: Fiocruz destaca práticas inspiradoras de cuidado com a saúde do homem

Este mês marca a campanha Novembro Azul, voltada à conscientização sobre a saúde do homem e à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata — o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que entre 10% e 16% da população masculina desenvolverá a doença ao longo da vida. Em 2023, o país registrou 17.093 óbitos, o equivalente a cerca de 47 mortes por dia, e a projeção é de 71.730 novos casos por ano no triênio 2023-2025 — números que reforçam a urgência de ampliar o acesso ao cuidado e fortalecer a cultura da prevenção.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), criada pelo Ministério da Saúde, orienta ações que buscam reduzir a morbidade e a mortalidade dessa população, promovendo condições de vida mais saudáveis e o enfrentamento dos fatores de risco. E eles não são poucos: os homens ainda morrem mais que as mulheres em todas as faixas etárias até os 80 anos, e a expectativa de vida deles é 7,1 anos menor. Entre os principais motivos de morte na faixa de 20 a 59 anos estão causas externas (como violências e acidentes), doenças do aparelho circulatório e as neoplasias, grupo em que o câncer de próstata se destaca.

Estilo de vida e desafios de acesso

Além dos fatores biológicos, o estilo de vida e o comportamento de autocuidado exercem papel decisivo na saúde masculina. Pesquisas apontam que os homens procuram menos os serviços de saúde e realizam menos exames preventivos do que as mulheres. Essa realidade, somada a hábitos de risco, como o consumo excessivo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo, eleva a probabilidade de doenças crônicas e reduz a chance de diagnósticos precoces.

Para enfrentar esses desafios, o SUS tem ampliado estratégias e ações com base na PNAISH voltadas à promoção da saúde do homem, muitas delas mapeadas e compartilhadas pela Plataforma IdeiaSUS Fiocruz, ambiente virtual que reúne mais de 3,5 milpráticas exitosas de todo o país. No mês do Novembro Azul, essas experiências se tornam exemplos concretos de como o cuidado pode ser construído de forma integral, humana e participativa. Ao reunir, valorizar e compartilhar essas iniciativas, a IdeiaSUS contribui para difundir práticas que inspiram novas formas de cuidar da saúde do homem no SUS, reforçando o princípio da integralidade e o papel da prevenção como caminho essencial para uma vida mais longa e saudável.

Experiências do SUS que inspiram o cuidado masculino

Em Porto Seguro (BA), a prática Mobilização social para detecção precoce do câncer de próstata na população indígena do município de Porto Seguro mobilizou a comunidade pataxó, garantindo mais de mil procedimentos em homens com mais de 40 anos, fortalecendo o diagnóstico precoce e o diálogo intercultural em saúde. Em Queimadas (PB), a iniciativa Saúde do homem além das fronteiras: a força da intersetorialidade municipal promoveu uma abordagem ampliada, que vai da sexualidade e paternidade à saúde mental, articulando diferentes setores e reduzindo barreiras no itinerário terapêutico para detecção e tratamento do câncer de próstata.

Outras experiências mostram como a ampliação do acesso pode transformar realidades. Em Santa Cruz (PB), o serviço Saúde do homem: mais acesso e qualidade com atendimentos noturnosfacilita o atendimento de trabalhadores que não conseguem buscar os serviços em horário comercial, enquanto em Esperança (PB), a ação Promovendo a saúde do homem: rompendo os entraves e ampliando a oferta de serviços oferece atendimentos em horários e datas diferenciadas, resgatando o vínculo entre o público masculino e as unidades básicas de saúde.

Em Petrópolis (RJ), a prática Indicadores para monitoramento das ações de promoção e atenção à saúde do homem fortalece a gestão e o planejamento das ações, com a construção de indicadores baseados na PNAISH, contribuindo para o conhecimento e acompanhamento do perfil de saúde masculina local. Para conhecer outras experiências sobre a temática, acesse o banco de práticas da IdeiaSUS Fiocruz.

Publicado em 06/11/2025 14:31 Katia Machado (IdeiaSUS Fiocruz)

Dois terços das mulheres do Rio sofreram violência obstétrica

Toques vaginais inadequados foram a reclamação mais frequente

Aproximadamente dois terços das mulheres do Rio de Janeiro ouvidas pela Pesquisa Nascer no Brasil 2 relataram ter sofrido pelo menos um tipo de violência obstétrica durante o parto. Os toques vaginais inadequados foram a forma de violência mais frequente, sofridos por 46% das participantes. Em seguida vem os relatos de negligência, feitos por 31%, e de abuso psicológico, por 22%.

Os dados fazem parte da segunda edição do maior inquérito sobre parto e nascimento do Brasil, feito pela Fundação Oswaldo Cruz. O suplemento sobre a situação do Rio de Janeiro foi divulgado nesta quarta-feira (03), com informações de 1923 mulheres, admitidas em 29 maternidades, públicas, privadas e mistas, de todas as regiões do estado entre 2021 e 2023. Os dados completos do país serão revelados no ano que vem. 

A maior parte das mulheres que foram vítimas de toques inadequados contou que eles foram feitos sem explicação ou consentimento. Também são numerosos os relatos de exames vaginais feitos sem privacidade. Já os relatos de negligência mais frequentes foram a longa espera por atendimento e sentimento de que estavam sendo ignoradas pela equipe do hospital. Na categoria de abuso psicológico, chama a atenção a quantidade de mulheres que foram repreendidas ou ouviram alguma bronca dos profissionais. 

“Quem é que sofreu o maior número de violências? Mulheres que eram jovens, adolescentes e as mais velhas; mulheres que tinham baixa escolaridade e as que recebiam benefícios sociais do governo, ou seja, as mais pobres. Quanto ao financiamento do parto, é maior a violência no setor público. Também é maior a violência no parto vaginal, porque a mulher fica em contato com os profissionais de saúde por mais tempo. Inclusive, quanto mais tempo ela ficar no hospital, maior a chance de ter uma violência obstétrica” complementa a coordenadora-geral da pesquisa, Maria do Carmo Leal. 

A pesquisa também mostra que 53 parturientes passaram pela chamada manobra de Kristeller, quando o profissional empurra ou sobe em cima da pessoa durante o parto vaginal, para acelerar a saída do bebê. O procedimento é proibido por lei estadual desde 2016 e desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde, por causa dos danos que pode causar à parturiente e o bebê. 

O estudo destaca que, se a prevalência da pesquisa for projetada para todos os nascimentos ocorridos no estado em 2022, “cerca de 5,6 mil mulheres sofreram uma das formas mais graves de violência física durante o parto no estado.”

Tâmara Freire – Repórter da Agência Brasil

Jovens são as maiores vítimas de violências e acidentes no Brasil

Um estudo epidemiológico sobre a situação de saúde da juventude brasileira revelou que a faixa etária é um fator de risco mais significativo do que a localização geográfica para violências e acidentes, tanto em áreas metropolitanas como em cidades do interior. Realizada pela Fiocruz, a pesquisa também indicou que jovens no final da adolescência (15 a 19 anos) sofrem mais violência no geral, especialmente física, além de serem mais vítimas em situações de conflitos; e que jovens de 20 a 24 anos, período em que costumam começar a trabalhar, estão mais sujeitos a uma morte violenta. 

Os pesquisadores utilizaram as bases de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022 e 2023, para determinar as taxas de mortalidade e incidência na população jovem entre 15 e 29 anos em todo o Brasil. De acordo com o levantamento da Agenda Jovem Fiocruz (AJF) e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), a taxa de mortalidade por violências e acidentes entre jovens é maior do que a da população como um todo em todos os estados e no DF. Na maioria dos casos, essa diferença é maior que 50%. Na Paraíba, a diferença chega a 90%.

De acordo com a pesquisa, 65% dos óbitos da juventude resultam de causas externas, como violências e acidentes (84.034 das 128.826 mortes entre 2022 e 2023). A taxa de mortalidade por causas externas para jovens é de 185,5 mortes para cada 100 mil habitantes, maior do que a da população geral (149,7). A taxa é ainda mais alta em jovens entre 20 e 24 anos (218,2). Em contraste, essas causas representam apenas 10% do total de óbitos do conjunto da população brasileira. Mais de um terço dos casos de violência notificados no SUS vitimaram jovens (36%).

Segundo o coordenador da AJF, André Sobrinho, é importante não ver a juventude de maneira homogênea: “No curso da vida juvenil, as questões de saúde, incluindo as violências, incidem de maneira diferente se a pessoa jovem está no início, no meio ou no fim desse ciclo. É fundamental identificar, portanto, as necessidades em saúde mirando as distintas subfaixas de idade”, aponta.

Principais causas incluem armas de fogo, motocicletas e ação da polícia

Intitulado 1º Informe epidemiológico sobre a situação de saúde da juventude brasileira: violências e acidentes, o estudo apontou que a principal forma de violência sofrida por jovens brasileiros é a agressão física (47%), seguida da violência psicológica/moral (15,6%) e pela violência sexual (7,2%). Quanto mais velha a vítima, maior a proporção de violência psicológica. Quanto mais jovem, maior a proporção de violência física.

Armas de fogo e acidentes de motocicleta têm peso significativo nas causas de mortalidade juvenil, especialmente nos municípios localizados fora das regiões metropolitanas.

Os acidentes de transportes na juventude matam principalmente os homens, que representam 84% das vítimas. Na metade desses casos (53%), o meio de transporte foi a motocicleta. Ainda assim, a principal causa de morte violenta na juventude, seja para homens ou mulheres, são as agressões com armas de fogo.

Outra causa de morte que pesa muito mais na juventude é a intervenção legal, ou seja, a ação da polícia, que resulta em 3% dos óbitos por causas externas de jovens brasileiros. Esse valor é de apenas 1% dos óbitos totais da população. 

Regiões e estados brasileiros 

O levantamento ainda indicou que o maior risco de morte por violências e acidentes na juventude ocorre nos estados do Nordeste e do Norte, com destaque para a faixa entre 20 e 24 anos do Amapá (447 óbitos para cada 100 mil habitantes) e na Bahia (403).

As Unidades da Federação (UF) com as maiores taxas de violência por cem mil habitantes na juventude são o Distrito Federal (696,1), o Espírito Santo (637,8), o Mato Grosso do Sul (629,5) e Roraima (623,5). Na população brasileira como um todo, a taxa é de 250,6 para cada cem mil habitantes. 

Leia mais sobre o estudo:

Jovens negros são as principais vítimas de morte por violência

Publicado em 25/08/2025 08:52

Eric Andriolo (Agenda Jovem Fiocruz)