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Cientistas da Fiocruz estão na lista dos que mais influenciam decisões no mundo

Um levantamento publicado na quinta-feira (6/11) pela Agência Bori revelou os 107 cientistas brasileiros que mais influenciam no mundo. Eles estão entre os mais citados em documentos que embasam tomadas de decisão. Os dados são de um relatório inédito fruto de parceria entre a Agência Bori e a Overton, maior plataforma internacional dedicada a mapear a interface entre ciência e políticas públicas. Seis dos 107 pesquisadores são da Fiocruz.

Segundo os organizadores do relatório, o documento mostra que a ciência brasileira exerce influência concreta sobre políticas públicas, mas de maneira desigual entre áreas e perfis de pesquisadores (Arte: reprodução da internet)

A pesquisa identificou cientistas brasileiros mencionados em documentos estratégicos, relatórios técnicos e pareceres usados por governos, organismos internacionais e organizações da sociedade civil — cada um com pelo menos 150 citações. Assim, foram mapeados os 107 cientistas. O levantamento mostra que a produção deles embasou mais de 33,5 mil documentos de políticas públicas desde 2019.

Os cientistas da Fiocruz listados na relação são os infectologistas Beatriz Grinsztejn (381 documentos e 116 artigos), Valdiléa Veloso (227 documentos e 51 artigos) e Júlio Croda (211 documentos e 39 artigos), o virologista Felipe Naveca (205 documentos e 20 artigos), o epidemiologista Albert Ko (167 documentos e 41 artigos) e o médico Marcus Lacerda (218 documentos e 57 artigos). Há baixa presença de mulheres entre os cientistas do Brasil que mais influenciam políticas públicas: dos 107 mapeados, apenas 22 são mulheres, o que corresponde a 22,5% do total.

A maior parte dos pesquisadores tem trabalhos mencionados em documentos de tomadas de decisão sobre ecossistemas e uso da terra: entre os nomes listados, 37 (35%) se destacam por concentrar esforços em temas que fazem do Brasil uma peça-chave no debate ambiental global. Esses trabalhos tratam de desmatamento, conservação, restauração e do papel dos ecossistemas na regulação do clima e na oferta de serviços essenciais à sociedade. Os cientistas foram divididos em nove macrocategorias: Ecossistemas e Uso da Terra, Clima e Atmosfera, Doenças Infecciosas e Vacinas, Doenças não Transmissíveis e Serviços, Alimentação e Nutrição, Economia e Finanças, Políticas Públicas e Governança, Energia e Transição e Educação.

Segundo os organizadores do relatório, o documento mostra que a ciência brasileira exerce influência concreta sobre políticas públicas, mas de maneira desigual entre áreas e perfis de pesquisadores. As nove macrocategorias revelam onde a interface ciência-política está mais consolidada e onde ainda há lacunas relevantes. A baixa participação feminina e a concentração em determinados campos reforçam a necessidade de ampliar a diversidade e democratizar o acesso à formulação de políticas.

Para Ana Paula Morales, cofundadora e diretora da Bori, a incidência do conhecimento científico em tomadas de decisão passa pela comunicação do que é feito na academia. “Quando a evidência é comunicada de forma clara e acessível, molda o entendimento público e capacita a sociedade a exigir decisões embasadas no conhecimento”, disse. “Tornar a ciência visível não é apenas uma questão de reconhecimento — é expandir seu alcance e sua capacidade de transformar o cotidiano”.

Os cinco cientistas brasileiros mais influentes em tomadas de decisão são da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e da USP. Pela ordem, César Victora (Ufpel), Carlos Monteiro (USP), Aluísio Barros (Ufpel), Paulo Saldiva (USP) e Pedro Hallal (Ufpel). Todos atuam em saúde ou na intersecção entre saúde e ambiente e somam mais de 5,5 mil citações em documentos ligados a decisões públicas.

*com informações da Agência Bori

Publicado em 07/11/2025 14:59 Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)*

Encontro debate eliminação do mercúrio e fortalecimento da saúde ambiental

O evento Futuro sem Mercúrio: Parcerias Globais para a Saúde Ambiental, realizado esta semana no Rio de Janeiro, reuniu representantes da Pure Earth, da Fiocruz e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), além de gestores públicos, pesquisadores e organizações internacionais. A atividade ocorreu no contexto do Fórum de Líderes Locais, que antecede a COP30, com início na próxima semana em Belém. O encontro promoveu um diálogo sobre os desafios e oportunidades para a eliminação do mercúrio, destacando os impactos da poluição química na saúde humana e nos ecossistemas, contribuindo para os avanços na implementação da Convenção de Minamata, que completa oito anos. As discussões enfatizaram a importância da cooperação entre ciência, políticas públicas e comunidades para reduzir a exposição a contaminantes e proteger populações vulnerabilizadas.

O debate sobre o mercúrio reafirma o papel do Brasil na busca de soluções para a tripla crise planetária e evidencia a importância de alianças entre ciência, Estado e sociedade (Foto: VPAAPS/Fiocruz)

A assessora de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Juliana Rulli Villardi, destacou que o enfrentamento à contaminação por mercúrio é uma agenda da saúde global e da justiça ambiental, que ultrapassa o campo técnico e ambiental e se inscreve como questão de direitos humanos e soberania sanitária. “O mercúrio atravessa fronteiras e atinge corpos, ecossistemas e culturas. Seus efeitos recaem principalmente sobre povos indígenas, ribeirinhos, trabalhadores da mineração e populações do campo, das florestas e das águas”, afirmou. Segundo ela, enfrentar o problema requer cooperação institucional, inovação e investimento contínuo.

Juliana ressaltou o papel estratégico da Fiocruz na integração entre ciência, políticas públicas e ação territorial em defesa da vida. Mencionou o Grupo de Trabalho Mercúrio e Saúde como ação institucional estratégica, que articula pesquisadores de diferentes unidades da Fiocruz, na construção de uma agenda de pesquisa cooperada voltada à proteção das populações expostas. Destacou ainda o Centro de Síntese em Saúde para Mudança do Clima, Biodiversidade e Poluição e a criação do Centro de Clima e Saúde em Rondônia como espaços de oportunidade para a articulação e fortalecimento dessa agenda, reforçando a presença e o compromisso da Fiocruz na Amazônia.

O chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Filipe Lopes, ressaltou a importância de incorporar o tema à agenda da cidade e aproximá-lo do cotidiano da população. “As pessoas compreendem melhor o impacto de uma enchente do que o de um contaminante invisível como o mercúrio. É fundamental traduzir esse problema em políticas públicas locais”, afirmou.

O cientista de dados Gabriel Vieira, do Centro de Inteligência Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, destacou que a integração entre vigilância e dados ambientais é essencial para prevenir agravos e orientar políticas baseadas em evidências. O Centro, pioneiro na América Latina, analisa informações sobre poluição do ar e eventos de calor e pretende incluir o monitoramento de metais pesados em suas análises epidemiológicas.

A experiência internacional foi apresentada pelo diretor de programa da Pure Earth no Peru, Rodrigo Velarde, que relatou iniciativas de vigilância sanitária e atenção a pessoas intoxicadas por mercúrio, além de projetos com mulheres mineradoras formais que adotaram tecnologias livres do metal. Segundo ele, as experiências mostram que é possível reduzir a exposição e manter a produção de forma segura, com apoio técnico e presença do Estado.

Em nome do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Adalberto Maluf Filho destacou que o Brasil vive um momento decisivo no avanço das políticas relacionadas à Convenção de Minamata. Entre os desafios, citou a necessidade de implementação de protocolos clínicos para populações contaminadas, rastreabilidade da cadeia do ouro, destinação segura do mercúrio apreendido e ampliação do inventário nacional de emissões. O secretário enfatizou também a importância da atuação conjunta entre o MMA, o Ministério da Saúde e a Funai na proteção de povos indígenas e comunidades amazônicas.

As falas convergiram em torno da urgência de fortalecer políticas integradas de saúde e ambiente, capazes de transformar evidências científicas em ações públicas. O Plano de Ação Nacional sobre o Mercúrio, em fase de elaboração pelo governo brasileiro, foi apontado como um marco importante nesse processo e será apresentado na Sexta Conferência das Partes da Convenção de Minamata (COP6), de 3 a 7 de novembro, em Genebra (Suíça).

A discussão também dialoga com a agenda climática que ganha força com a realização da COP30, na próxima semana, em Belém. Ao conectar os temas de clima, poluição e biodiversidade, o debate sobre o mercúrio reafirma o papel do Brasil na busca de soluções para a tripla crise planetária e evidencia a importância de alianças entre ciência, Estado e sociedade.

Publicado em 07/11/2025 14:23 Silvia Batalha (VPAAPS)

Ministro da Saúde reforça papel estratégico da Fiocruz em visita à África do Sul e à Indonésia

Durante missão oficial à África do Sul e à Indonésia nesta semana, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou o papel da Fiocruz como Secretaria Executiva Permanente da Coalizão Saúde do G20, reforçando o compromisso do Brasil com a produção de vacinas, medicamentos e tecnologias em saúde. Padilha participou de uma série de agendas, como reunião de ministros do bloco, com foco na ampliação de parcerias.

O ministro Alexandre Padilha no encontro com ministros da África do Sul e Indonésia (Foto: Divulgação/MS)

“O Brasil preside a Coalizão Saúde do G20, lançada pelo presidente Lula e a ex-ministra Nísia Trindade, em 2024. Agora, na África do Sul, apresentaremos a estrutura e as primeiras parcerias de desenvolvimento e produção, tendo a Fundação como Secretaria Executiva Permanente”, destacou o ministro em suas redes sociais. Padilha lembrou que a Coalizão já nasceu com importantes eixos de cooperação, como a produção de uma nova vacina contra a tuberculose e a Bright Initiative, que pretende “replicar o modelo do Japão e da Coreia do Sul para inovação e produção de medicamentos e vacinas”.

O ministro também anunciou a integração da União Africana e do CDC África à Coalizão, ampliando a representatividade e a capacidade de articulação entre países de diferentes continentes. A Fiocruz, que tem histórico de cooperação técnica com o CDC África, reforça, assim, seu papel de articuladora global no fortalecimento dos sistemas de saúde pública. Formalizada como Coalizão Global para Produção e Inovação Local e Regional durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, a iniciativa busca reduzir as desigualdades globais no acesso a produtos de saúde e fortalecer a capacidade produtiva de países do Sul global.

O Brasil exercerá a presidência da Coalizão pelos próximos dois anos, conduzindo a agenda sob os princípios de “solidariedade, igualdade e sustentabilidade”. A Fiocruz é a responsável por coordenar o plano de trabalho internacional, voltado à ampliação da produção regional e ao enfrentamento de doenças negligenciadas — uma ação que consolida o país como liderança na diplomacia da saúde e na promoção do acesso equitativo em escala global.

Publicado em 07/11/2025 14:03 Ana Paula Blower (Agência Fiocruz de Notícias)

Número de usuários de planos de saúde aumenta em setembro

Dados foram divulgados pela Agência Nacional de Saúde

O número de usuários de planos de saúde alcançou, em setembro, 53.232.560 pessoas na área de assistência médica e 34.910.516 em planos exclusivamente odontológicos.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (6) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e mostram aumento de 0,63% e de 1,04%, respectivamente, em relação ao mês anterior.

Os planos de assistência médica tiveram 1.347.958 novas adesões ou vínculos, e o cancelamento de 1.015.121 vínculos. A agência chama a atenção que não se trata de indivíduos, já que uma mesma pessoa pode ser beneficiária em mais de um plano.

Segundo a ANS, os novos vínculos ou adesões são referentes a vários tipos de entrada, como novos beneficiários, transferência de carteira, mudança voluntária de plano, entre outros. Os  cancelamentos também podem se referir a todo tipo de saída, seja encerramento do contrato de plano coletivo de uma empresa, retirada de beneficiários do setor ou óbito, por exemplo.

No acumulado de 12 meses, foram registrados 15.537.653 adesões e 14.111.652 cancelamentos.

Nos plan​os médico-hospitalares, setembro contou com mais 332.837 beneficiários em relação ao mês anterior.

Se o comparativo for em relação a igual mês de 2024, constata-se aumento de 1.426.001 beneficiários no setor. Nos planos exclusivamente odontológicos, 946.755 beneficiários incrementaram o setor em setembro deste ano, quando comparamos com o mesmo mês em 2024. Em relação a agosto, a saúde suplementar adquiriu mais 357.669 beneficiários.

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Contratações

A ANS contabilizou 668 operadoras ativas nos planos de assistência médica com beneficiários, somando 21.824 planos ativos de saúde. Em relação aos planos exclusivamente odontológicos, o número de operadoras ativas com beneficiários atingiu 315, mostrando 5.321 planos ativos.

Por tipo de contratação, o número de contratos coletivos superou o de contratos individuais ou familiares tanto nos planos de assistência médica, como odontológicos, atingindo 44.637.145 nos planos médico-hospitalares, destacando os contratos coletivos empresariais (38.787.334); e 29.146.554 nos planos exclusivamente odontológicos, com 25.971.291 contratos coletivos empresariais.

Na comparação com setembro do ano passado, o setor registrou evolução de beneficiários em planos de assistência médica em todos os estados brasileiros. Os maiores números de beneficiários são encontrados em São Paulo, que subiu de 18.102.385, em setembro de 2024 para 18.694.732, em setembro de 2025; Minas Gerais (de 5.790.510 para 5.902.946|) e Rio de Janeiro (de 5.531.660 para 5.607.424).

Entre os planos odontológicos, 20 estados e o Distrito Federal registraram crescimento no comparativo anual.

Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil Publicado em 06/11/2025 – 15:09 Rio de Janeiro

Radis faz balanço da 5ª Conferência de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora

Mudanças no mundo do trabalho, redução da jornada, criação de uma Política Nacional de Saúde do Trabalhador, fortalecimento da vigilância em saúde do trabalho e revogação de reformas que precarizam a vida profissional estiveram em pauta na 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (5ª CNSTT). A conferência contou com ampla participação popular e destacou que a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras é direito humano. Tudo isso está na nova edição da revista Radis, publicada pela Fiocruz.

A revista mostra o que esteve em discussão no encontro. E lista quais os desafios estruturais do mundo do trabalho e como dar continuidade às lutas para que essas pautas deixem de ser promessa e se tornem realidade.

A edição também traz outros assuntos: iniciativas na atenção primária que valorizam o brincar no desenvolvimento infantil; o canto coral que promove saúde mental e inclusão; e o projeto Mosaic, que une ciência e saberes locais para enfrentar degradação ambiental. E ainda apresenta um estudo da Fiocruz que revela melhorias do parto vaginal no SUS, mas aponta falhas no pré-natal e altos índices de violência obstétrica.

Publicado em 06/11/2025 14:48 Informe Ensp

Novembro Azul: Fiocruz destaca práticas inspiradoras de cuidado com a saúde do homem

Este mês marca a campanha Novembro Azul, voltada à conscientização sobre a saúde do homem e à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata — o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que entre 10% e 16% da população masculina desenvolverá a doença ao longo da vida. Em 2023, o país registrou 17.093 óbitos, o equivalente a cerca de 47 mortes por dia, e a projeção é de 71.730 novos casos por ano no triênio 2023-2025 — números que reforçam a urgência de ampliar o acesso ao cuidado e fortalecer a cultura da prevenção.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), criada pelo Ministério da Saúde, orienta ações que buscam reduzir a morbidade e a mortalidade dessa população, promovendo condições de vida mais saudáveis e o enfrentamento dos fatores de risco. E eles não são poucos: os homens ainda morrem mais que as mulheres em todas as faixas etárias até os 80 anos, e a expectativa de vida deles é 7,1 anos menor. Entre os principais motivos de morte na faixa de 20 a 59 anos estão causas externas (como violências e acidentes), doenças do aparelho circulatório e as neoplasias, grupo em que o câncer de próstata se destaca.

Estilo de vida e desafios de acesso

Além dos fatores biológicos, o estilo de vida e o comportamento de autocuidado exercem papel decisivo na saúde masculina. Pesquisas apontam que os homens procuram menos os serviços de saúde e realizam menos exames preventivos do que as mulheres. Essa realidade, somada a hábitos de risco, como o consumo excessivo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo, eleva a probabilidade de doenças crônicas e reduz a chance de diagnósticos precoces.

Para enfrentar esses desafios, o SUS tem ampliado estratégias e ações com base na PNAISH voltadas à promoção da saúde do homem, muitas delas mapeadas e compartilhadas pela Plataforma IdeiaSUS Fiocruz, ambiente virtual que reúne mais de 3,5 milpráticas exitosas de todo o país. No mês do Novembro Azul, essas experiências se tornam exemplos concretos de como o cuidado pode ser construído de forma integral, humana e participativa. Ao reunir, valorizar e compartilhar essas iniciativas, a IdeiaSUS contribui para difundir práticas que inspiram novas formas de cuidar da saúde do homem no SUS, reforçando o princípio da integralidade e o papel da prevenção como caminho essencial para uma vida mais longa e saudável.

Experiências do SUS que inspiram o cuidado masculino

Em Porto Seguro (BA), a prática Mobilização social para detecção precoce do câncer de próstata na população indígena do município de Porto Seguro mobilizou a comunidade pataxó, garantindo mais de mil procedimentos em homens com mais de 40 anos, fortalecendo o diagnóstico precoce e o diálogo intercultural em saúde. Em Queimadas (PB), a iniciativa Saúde do homem além das fronteiras: a força da intersetorialidade municipal promoveu uma abordagem ampliada, que vai da sexualidade e paternidade à saúde mental, articulando diferentes setores e reduzindo barreiras no itinerário terapêutico para detecção e tratamento do câncer de próstata.

Outras experiências mostram como a ampliação do acesso pode transformar realidades. Em Santa Cruz (PB), o serviço Saúde do homem: mais acesso e qualidade com atendimentos noturnosfacilita o atendimento de trabalhadores que não conseguem buscar os serviços em horário comercial, enquanto em Esperança (PB), a ação Promovendo a saúde do homem: rompendo os entraves e ampliando a oferta de serviços oferece atendimentos em horários e datas diferenciadas, resgatando o vínculo entre o público masculino e as unidades básicas de saúde.

Em Petrópolis (RJ), a prática Indicadores para monitoramento das ações de promoção e atenção à saúde do homem fortalece a gestão e o planejamento das ações, com a construção de indicadores baseados na PNAISH, contribuindo para o conhecimento e acompanhamento do perfil de saúde masculina local. Para conhecer outras experiências sobre a temática, acesse o banco de práticas da IdeiaSUS Fiocruz.

Publicado em 06/11/2025 14:31 Katia Machado (IdeiaSUS Fiocruz)

InfoGripe: casos de influenza A aumentam no Sudeste e avançam para a Bahia

Divulgada nesta quinta-feira (6/11), a mais recente edição do Boletim InfoGripe da Fiocruz chama atenção para a manutenção do aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por influenza A em São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. O número de casos graves pelo vírus começa a apresentar início de aumento também na Bahia.

O atual cenário alerta que a Covid-19 segue em tendência de crescimento em alguns estados. As notificações dos casos graves do vírus continuam aumentando no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, porém ainda em níveis baixos de incidência. No Espírito Santo, os casos de SRAG nos idosos associados à Covid-19 estão estáveis, mas ainda em níveis moderados de incidência.

A análise é referente à Semana epidemiológica 44, de 26 de outubro a 1º de novembro.  O InfoGripe é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) voltada ao monitoramento de casos de SRAG no país. A iniciativa oferece suporte às vigilâncias em saúde na identificação de locais prioritários para ações, preparações e resposta a eventos em saúde pública.

A pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e responsável pelo InfoGripe, ressalta que em relação às crianças pequenas o estudo verificou em Sergipe uma alta atípica, para esta época do ano, de SRAG por vírus sincicial respiratório (VSR) em crianças pequenas. 

O Boletim sublinha que três estados apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco e alto risco, com tendência de crescimento: Mato Grosso do Sul, Paraíba e Tocantins. No Mato Grosso do Sul e na Paraíba o aumento de SRAG tem se concentrado nas crianças pequenas e tem sido impulsionado em grande parte pelo rinovírus.

Em Tocantins o número de casos de SRAG tem aumentado principalmente na faixa etária a partir dos 50 anos. Ainda não há dados laboratoriais suficientes no estado para determinar o vírus responsável pelo crescimento. Contudo, é possível que esse aumento esteja sendo impulsionado pela influenza A, devido à faixa etária mais afetada, e a proximidade do estado com Goiás e o Distrito Federal, que apresentaram uma alta recente de casos graves pelo vírus.

“Continuamos recomendando ações de etiqueta respiratória, como cobrir a boca com o braço ao tossir ou espirrar, fazer isolamento dentro de casa ou usar uma boa máscara em locais públicos em casos de aparecimento de sintomas de gripe ou resfriado. E, por último e não menos importante, manter a vacinação contra a influenza e a Covid-19 sempre em dia, especialmente para a população que apresenta maior risco de desenvolver quadros graves ou ir a óbito por esses vírus, como crianças pequenas, idosos e pessoas com alguma comorbidade. E pessoas que possuem maior exposição ao vírus como profissionais da área da saúde”, afirma a pesquisadora. 

Estados e capitais

Em nível nacional, os casos de SRAG apresentam sinal de estabilidade nas tendências de longo e de curto prazo. Três das 27 unidades federativas apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco (últimas duas semanas) com sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas 6 semanas) até a Semana 44: Mato Grosso do Sul, Paraíba e Tocantins. No Espírito Santo, os casos de SRAG entre os idosos associados à Covid-19 estão estáveis, mas continuam em um patamar considerado moderado para o estado. Sobre o VSR, apenas Sergipe apresenta uma alta recente de casos graves do vírus em crianças pequenas.

O estudo verificou que 3 das 27 capitais apresentam nível de atividade de SRAG em alerta, risco ou alto risco (últimas duas semanas) com sinal de crescimento de SRAG na tendência de longo prazo (últimas 6 semanas) até a semana 44: Florianópolis (SC), João Pessoa (PB) e Palmas (TO).

Dados epidemiológicos

Referente ao ano epidemiológico 2025 já foram notificados 204.086 casos de SRAG, sendo 107.393 (52,6%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 74.297 (36,4%) negativos e ao menos 9.174 (4,5%) aguardando resultado laboratorial. Dados de positividade para semanas recentes estão sujeitos a grandes alterações em atualizações seguintes por conta do fluxo de notificação de casos e inserção do resultado laboratorial associado.

Dentre os casos positivos do ano corrente, observou-se 23,2% de influenza A, 1,2% de influenza B, 40,1% de vírus sincicial respiratório, 28,2% de rinovírus e 8,2% de Sars-CoV-2 (Covid-19). Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a prevalência entre os casos positivos foi de 24,8% de influenza A, 1,3% de influenza B, 6,4% de vírus sincicial respiratório, 37,8% de rinovírus, e 14,4% de Sars-CoV-2 (Covid-19).

Óbitos  

Referente aos óbitos de SRAG em 2025, já foram registrados 12.151 óbitos de SRAG, sendo 6.216 (51,2%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 4.804 (39,5%) negativos e ao menos 194 (1,6%) aguardando resultado laboratorial. Dentre os óbitos positivos do ano corrente, observou-se 49,4% de influenza A, 1,8% de influenza B, 11,6% de vírus sincicial respiratório, 14,4% de rinovírus e 23,4% de Sars-CoV-2 (Covid-19). Nas quatro últimas semanas epidemiológicas a prevalência entre os óbitos positivos foi de 24,7% de influenza A, 2% de influenza B, 3,5% de vírus sincicial respiratório, 28,8% de rinovírus e 39,4% de Sars-CoV-2 (Covid-19).

Publicado em 06/11/2025 12:08 Regina Castro (Agência Fiocruz de Notícias)

Unesco faz recomendação inédita para uso ético da neurotecnologia

Orientações entram em vigor no dia 12 de novembro próximo

Uma tecnologia capaz de monitorar o funcionamento do cérebro humano e até mesmo de modificar a atividade cerebral. Em todo o mundo há dezenas de milhares de pessoas usando a neurotecnologia. Ela está em implantes cocleares,que são próteses eletrônicas utilizadas para restaurar a audição em pessoas com déficit funcional ou estimuladores cerebrais para tratar doenças como Parkinson ou depressão.

O uso da neurotecnologia não se restringe, no entanto, à medicina. Ela pode ser usada na educação, por exemplo, para melhorar a memória. Os benefícios são muitos. Mas há também riscos. Esses dispositivos são capazes de captar e armazenar diversas informações pessoais, os chamados neurodados, que precisam ser protegidos. Sem controle ético, podem inclusive transmitir propagandas de produtos aos usuários.

Uma tecnologia com acesso direto ao cérebro humano, às emoções e à personalidade, precisa de atenção dos governantes de todo o mundo e de regulamentação, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Nesta quarta-feira (5), a Conferência Geral da Unesco aprovou a primeira recomendação sobre a ética da neurotecnologia, que deverá ser observada pelos 194 países membros da organização, entre eles o Brasil. O documento entra em vigor no dia 12 de novembro, ao final da conferência geral, que está sendo realizada em Samarcanda, no Uzbequistão.

Trata-se do primeiro quadro normativo global sobre a ética da neurotecnologia. Em entrevista à Agência Brasil, a diretora-geral adjunta de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais, Lídia Brito, explica que a normativa busca chamar atenção para a tecnologia e para os possíveis riscos que ela pode vir a ter.

“No mundo em que vivemos hoje, com avanços muito rápidos de várias tecnologias emergentes, esse papel da Unesco é cada vez mais importante, porque, de alguma maneira, é uma antecipação de possíveis riscos aonde uma base ética pode reduzir e mitigar os imprevistos do avanço tecnológico”, diz.

Riscos

Segundo o texto, os países estão em fases diferentes da implementação da tecnologia. A intenção é até mesmo antecipar riscos de usos que podem ainda nem estar em vigor.

“É preciso criar um arcabouço ético e um instrumento que põe claramente, por um lado, definições globalmente aceitas, que estão ligadas à neurotecnologia, mas também os princípios e valores que têm que orientar o desenvolvimento desta tecnologia em todos esses campos”, diz a diretora-geral.

“É o instrumento global onde se acorda uma série de definições importantes para que, depois, os princípios éticos possam ser aplicados em todo o ciclo da tecnologia.”

Além de trazer definições do que é neurotecnologia, neurodados e outros termos relacionados, o documento chama a atenção de governos, para que garantam que a técnica permaneça inclusiva e acessível, estabelecendo salvaguardas para preservar a integridade da mente humana.

Neurotecnologia; neurociência; cérebro; tecnologia cerebral; saúde tecnológica; inteligência artificial. Foto: DC Studio/Freepik
Recomendação destaca a necessidade urgente de melhor regulamentar os produtos que possam influenciar o comportamento. Foto: DC Studio/Freepik

O instrumento normativo identifica riscos como violações da privacidade mental e alerta para o uso da tecnologia no ambiente de trabalho, a fim de monitorar a produtividade ou criar perfis de dados sobre os funcionários, e insiste na necessidade de consentimento explícito e total transparência.

A recomendação destaca a necessidade urgente de melhor regulamentar os produtos que possam influenciar o comportamento ou promover o vício, garantindo que informações claras e acessíveis sejam fornecidas aos consumidores.

O documento desaconselha o uso não terapêutico para crianças e jovens, cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Brito reforça que se trata de uma recomendação, ou seja, a aplicação pelos países não é obrigatória. Ela destaca também que não se trata de proibir o uso dessas tecnologias, mas sim de ter cuidados éticos para que o uso respeite os direitos das pessoas.

“Não é proibição, de maneira nenhuma, até porque é uma tecnologia que pode trazer muitos benefícios às pessoas, incluindo as crianças e adolescentes, é ter os cuidados éticos para que essa utilização respeite os direitos dessas crianças, desses adolescentes e também proteja essas crianças e esses adolescentes”, diz.

Transparência

Entre as recomendações aos estados-membros é que sejam asseguradas a transparência e a responsabilização no apoio, supervisão e regulamentação da neurotecnologia, em particular em iniciativas financiadas com fundos públicos, como pesquisas na área da saúde mental, do cérebro e da saúde cerebral, e programas de pesquisa e desenvolvimento na área da saúde em geral.

Os governos devem exigir que os projetos divulguem publicamente os objetivos, as metodologias, as utilizações previstas, os resultados, os riscos potenciais, os riscos identificados e os impactos sociais das suas iniciativas de neurotecnologia, assim que a informação seja adequada para divulgação pública.

A transparência é crucial para fomentar a confiança pública e garantir que os avanços da neurotecnologia estejam em conformidade com as normas éticas estabelecidas nesta recomendação e com o direito internacional, incluindo o direito internacional dos direitos humanos.

Neurodados

Segundo o documento, os estados-membros devem desenvolver quadros regulamentares e jurídicos robustos, justos e ágeis para reger a coleta, o tratamento, a partilha e todas as outras utilizações de dados neurais, bem como de dados neurais indiretos e de dados não neurais que permitam inferências sobre estados mentais, conforme apropriado.

Os quadros, novos e existentes, devem considerar tanto os dados neurais como os dados neurais indiretos e os dados não neurais que permitam inferências sobre estados mentais como dados pessoais sensíveis.

Educação

A neurotecnologia para fins de otimização de desempenho não terapêutico não deve ser utilizada em crianças com saúde e função cognitiva plenas, conforme definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), entendidas como pessoas com menos de 18 anos, diz o texto.

O uso da neurotecnologia nesta área pode ser permitido para certos fins pedagógicos legítimos, como auxiliar alunos com dificuldades de aprendizagem, incluindo pessoas com deficiência ou condições cognitivas, ou promover a alfabetização tecnológica, desde que seja compatível com os direitos humanos, a saúde, o bem-estar e a não discriminação dos alunos, bem como com seu consentimento prévio, livre e informado, ou anuência, conforme o caso.

Tais usos também devem ser baseados em evidências, avaliados previamente, corresponder a objetivos educacionais legítimos e ser limitados ao necessário para atingir tais objetivos. Os Estados-Membros devem ser incentivados a desenvolver diretrizes nacionais para esse fim.

Consumidores

De acordo com o documento, os estados-membros e outros intervenientes relevantes devem adotar políticas para prevenir o uso indevido ou abusivo da neurotecnologia para os consumidores, especialmente os neurojogos e jogos de azar, bem como outros dispositivos que exploram o sistema de recompensa da dopamina ou que visam induzir o uso problemático e prejudicial e o consumo excessivo.

As regulamentações devem exigir a rotulagem clara dos riscos, bem como a divulgação dos seus efeitos no sistema nervoso, e aplicar normas de design de jogos e normas de segurança, privacidade e adequação à idade.

Devem impedir a exploração da vulnerabilidade física, mental e emocional de uma pessoa para levar ao uso compulsivo ou ao vício em jogos ou plataformas digitais recreativas combinadas com neurotecnologia, de forma a promover um uso saudável e equilibrado, especialmente entre as crianças.

Manipulação

Outro ponto é a proibição do uso de neurotecnologia que influencia ou manipula indivíduos durante o sono, como o marketing durante o sono e os sonhos.

As regulamentações devem proibir estritamente aplicações comerciais, de marketing ou políticas que visem indivíduos durante o sono, utilizando neurotecnologia ou dados neurais, bem como dados neurais indiretos e dados não neurais que permitam inferências sobre estados mentais.

Além disso, mecanismos robustos de supervisão devem ser exigidos para garantir que qualquer pesquisa ou aplicação dessas tecnologias priorize o bem-estar, a privacidade e a autonomia dos indivíduos, com atenção especial aos potenciais impactos psicológicos e cognitivos a longo prazo da manipulação dos estados de sono.

Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil Publicado em 05/11/2025 – 14:58 Rio de Janeiro

Febre maculosa causa mais duas mortes no interior de São Paulo

Óbitos foram registrados no município de Leme

Duas pessoas morreram, na cidade de Leme (interior de São Paulo), na semana passada, devido à febre maculosa. A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde do município. Não foram divulgados os nomes, gênero ou idade das vítimas.

Segundo a secretaria, equipes técnicas da prefeitura adotaram todas as medidas de controle e vigilância assim que os casos foram notificados. As ações de contenção têm sido realizadas pelo Setor de Vigilância Epidemiológica e Zoonoses.

O interior do estado de São Paulo vem sofrendo com casos da doença, que é transmitida pelo carrapato. A cidade de Salto , distante cerca de 90 quilômetros de Leme, registrou três mortes por febre maculosa em 2025. Um parque local foi interditado pela prefeitura, já que duas destas vítimas frequentaram o local.

Neste ano, 36 casos da doença haviam sido registrados em todo o estado, com 18 óbitos contabilizados até outubro. Agora, já são 20. Em todo o ano passado, foram 72 casos, com 26 mortes.

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Doença

A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato, é uma infecção febril de gravidade variável, com elevada taxa de letalidade. Causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, a doença é transmitida pela picada de carrapato encontrado em ambientes com animais domésticos, como cães e gatos, gado e áreas de vegetação alta.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES) de São Paulo, menos de 1% dos carrapatos-estrela estão contaminados com a bactéria que causa a doença, portanto, apenas o contato com carrapato não significa uma infecção no indivíduo.

Sintomas

Os principais sintomas da febre maculosa são: febre súbita, dores de cabeça e nas articulações, fraqueza extrema, cansaço ou falta de energia. Entre o terceiro e o quinto dia de infecção, aparecem erupções cutâneas nos punhos e tornozelos, eventualmente espalhando-se por todo o corpo.

Prevenção

A prevenção é essencial e inclui evitar áreas infestadas por carrapatos, usar calças compridas e botas ao circular em regiões de risco. Se for encontrado algum carrapato na pele, é preciso removê-lo imediatamente, sem esmagá-lo com as unhas.

*Estagiário sob supervisão de Odair Braz Junior

Matheus Crobelatti* Publicado em 04/11/2025 – 14:37 São Paulo

Fiocruz lança 2ª edição de curso de letramento racial para trabalhadores do SUS

O racismo permeia práticas, instituições e estrutura a sociedade brasileira, influenciando ainda o modo como se produz, se ensina e se faz saúde. Romper com antigas convenções sociais exige mais do que reconhecer o problema: exige ação. Nesse sentido, a Fiocruz lança a segunda edição do curso online e gratuito Letramento racial para trabalhadores do SUS. A primeira edição contou com quase 23 mil participantes. Junto ao lançamento da edição 2025 do curso ocorreu a aula aberta Racismo e antirracismo no SUS, nesta terça-feira (4/11), e o lançamento do livro Letramento racial para trabalhadores do SUS.

A formação propõe um mergulho crítico nas relações entre racismo e saúde, convidando profissionais e estudantes a repensarem suas práticas e a incorporarem uma postura antirracista no cotidiano do cuidado, da gestão e da formação em saúde. Ser antirracista é um compromisso ético e político, além de ser também um passo necessário para garantir o direito universal à saúde. Nesta segunda edição, o curso amplia e fortalece o debate sobre racismo institucional, equidade racial e práticas transformadoras no SUS, com conteúdos interativos, recursos abertos e acessíveis. Este curso foi o primeiro produto publicado no âmbito do edital Inova Educação – Recursos Educacionais Abertos, promovido pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz). O curso é organizado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o Campus Virtual Fiocruz.

Curso como introdutor e catalisador do debate

O curso é especialmente voltado a profissionais do SUS e estudantes, mas aberto a todas as pessoas interessadas no tema. Segundo a pesquisadora da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Regimarina Soares Reis, que é coordenadora da formação, a iniciativa é pioneira com essa abordagem em nível nacional. Ela aponta que, em um debate historicamente invisibilizado, certamente, este curso também está abrindo caminhos e estimulando a realização de outras iniciativas locais.

“A primeira oferta constituiu uma etapa estratégica para fortalecer a capacidade de trabalhadores em fazer frente ao racismo estrutural que está entranhado nas instituições de saúde”, comenta Regimarina, destacando ainda que o expressivo número de participantes da primeira edição, provenientes de todas as regiões do país, aponta o tamanho da dimensão da percepção da necessidade de transformação de práticas racistas naturalizadas. A ideia, diz ela, “é que o letramento racial seja um meio, tal como uma ferramenta pedagógica, que apoie a produção de conhecimentos e práticas de saúde orientadas pela equidade sociorracial no SUS. Entender como o racismo é produzido na estrutura da nossa sociedade, os mecanismos a partir dos quais ele opera, e as possibilidades antirracistas permitirá a construção de um posicionamento crítico frente às tensões raciais”.

O jornalista da Fiocruz Leonardo Azevedo, que tem destacada atuação na luta antirracista na instituição — e será homenageado no encontro Trajetórias Negras Fiocruz 2025, em 11 de novembro —, participou da primeira edição do curso e ressalta que, apesar de ser especialmente voltado para os trabalhadores do SUS, a formação “é uma oportunidade para que todas as pessoas possam observar e desconstruir práticas racistas no dia a dia, nas interações pessoais e no trabalho, construindo uma sociedade antirracista e comprometida com equidade racial”. Ele comenta também sobre a riqueza dos materiais, além da facilidade de realizar o curso de forma flexível e autônoma.

Leonardo defende que o letramento racial possibilita entender que o racismo é uma questão estrutural e atual e que todos, não apenas os negros, devem estar comprometidos com a luta antirracista. “É preciso enfrentar o racismo, adotar práticas antirracistas e promover a equidade racial em artes, textos, vídeos, imagens e todas as ferramentas e canais que nós, profissionais de comunicação, atuamos e temos responsabilidade. É fazer uma análise crítica das narrativas, promover a diversidade nas redações, assim como a formação e o diálogo contínuo. É adotar um vocabulário racial, para que a linguagem não perpetue o racismo em nossos materiais. É dar visibilidade a pessoas negras em áreas e assuntos distintos, não apenas em assuntos relacionados ao racismo”, argumenta.

O livro Letramento racial para trabalhadores do SUS foi escrito por Marcos Araújo (UFBA), Daniel Campos (UFRJ), Letícia Batista (EPSJV/Fiocruz) e Regimarina Reis (EPSJV/Fiocruz), com prefácio de Emiliano David (Uerj) e Ingrid D’avilla (EPSJV/Fiocruz). A aula teve a mediação de Sandra Vaz (UFF)

Publicado em 04/11/2025 11:48 Isabela Schincariol (VPEIC)